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Em 2010, no Haiti, forte terremoto deixou milhares de mortos e feridos e um sem número desabrigados. Em busca de melhores condições, diversos haitianos deixaram seu país. Muitos deles chegaram ao Brasil.

Claro, a economia faz uma baita diferença nessas situações. O Haiti é muito pobre, tem infraestrutura debilitada. Um desastre natural como esse tende a ser muito mais devastador por lá que em países ricos, como Japão e Estados Unidos, por exemplo. Mas não dá para negar a importância da natureza na tragédia haitiana.

Em 2016, uma nova crise humanitária internacional afeta o Brasil com a chegada de mais estrangeiros. Eles vêm da nossa vizinha Venezuela, em colapso por causa da economia. Falta de tudo lá, de papel higiênico a remédios.

Matéria do Estadão de algumas semanas atrás relata que 30 mil venezuelanos já cruzaram a fronteira seca do país com o estado de Roraima. A Folha, em reportagem recente, afirma que a cidade de Piracaima, que há seis meses tinha apenas 12 mil habitantes, “vive um caos”.

É bastante gente chegando. E o fluxo só tende a aumentar, à medida que a economia venezuelana só piora e segue renovando as nossas definições de crise.

O que aconteceu com a Venezuela?

Ao contrário do Haiti, a Venezuela não passou por desastre natural algum. Sim, teve a queda do preço do petróleo, que abalou a economia venezuelana. Mas nenhum outro país produtor de petróleo, por mais dependente que seja, experimentou uma derrocada desse tamanho.

A situação é, em larga medida, coisa do ser humano mesmo. Especificamente, resulta da interferência desastrada no funcionamento dos mercados.

Já levantamos este ponto aqui antes: o ideal é ter mercados e estado atuando de maneira harmônica, de modo complementar. Do lado do estado, ficam a infraestrutura jurídica para o bom funcionamento dos mercados; e atuações pontuais para corrigir as situações em que os mercados falham – monopólios, externalidades, regulações, etc.

Fora isso, é dever do estado prover serviços públicos e realizar políticas sociais que promovam a igualdade de oportunidades na população.

Mas como o estado consegue faz isso sem mercados vigorosos? Não consegue. Ele precisa que os mercados gerem bastante renda e emprego. Só assim o estado é capaz de coletar impostos para financiar suas políticas.

Na Venezuela, as políticas econômicas vão justamente no sentido contrário: engessa-se o funcionamento dos mercados. Controla-se preços, proíbe-se empresários de realizar reajustes. A inflação em alta puxa para cima os custos dessas empresas. Mas elas são impedidas de repassar isso para preços, vêm sua lucratividade minguar e... as prateleiras ficam vazias.

Expropriações são também comuns. O governo toma os negócios de empresários que não seguem suas recomendações de quanto produzir e quanto cobrar. Alguns vão até para a cadeia.

Pergunta: você gostaria de ser empreendedor num cenário desse?

Produção e emprego despencam. Começa a faltar de tudo. E a arrecadação do governo desce a ladeira, como consequência da queda na renda.

Os serviços públicos mais básicos, como saúde e segurança, estão severamente comprometidos na Venezuela. Caracas, capital do país, é hoje uma das cidades mais violentas do mundo.

Sem grana nos cofres, o governo recorre à impressão desenfreada de dinheiro para pagar as contas. É o que está por trás de uma taxa de inflação que se aproxima dos 1.000% ao ano.

A situação na Venezuela é tão ruim, mas tanto, que vários de seus habitantes preferem vir para o Brasil. Sim, ao Brasil, em crise econômica como nunca enfrentada. O problema aqui é imenso, entre 2014 e 2016 a renda por habitante deve recuar 10%. E, ainda assim, não é nada quando comparamos à crise da nossa vizinha.

Quais os impactos disso para o Brasil?

A vinda de venezuelanos pode trazer uma série de vantagens para nossa economia. Por quê? Principalmente, porque imigrantes tendem a ser mais empreendedores. Os indivíduos com essa característica estão dispostos a arriscar uma mudança de país na esperança de mudar de vida. E isso pode contribuir para elevar a produtividade de nossa força de trabalho.

Claro, esse efeito depende de quantas pessoas virão. E se, de fato, essa população ficará no Brasil. Se as condições econômicas continuarem ruins por aqui, sem oportunidades de emprego, parte significativa desses milhares de venezuelanos tende a buscar outra paragem.

Afinal, elas já tomaram a decisão mais custosa: deixar o país de origem.

Mas essas vantagens não vêm de graça – é importante pontuar. Teremos de fornecer condições mínimas de apoio para quem chega aqui. Essa turma já coloca pressão na rede de saúde pública das cidades fronteiriças do Brasil, por exemplo. O mesmo é esperado para todos os serviços públicos: de educação, segurança, transporte, etc.

Por enquanto, não parece ser grande problema. Mas se o fluxo de pessoas se intensificar, o custo de acolhê-los não será trivial – o que é particularmente problemático num momento de crise fiscal como o do Brasil.

30 mil venezuelanos já chegaram ao Brasil. Por quê?

Em 2010, no Haiti, forte terremoto deixou milhares de mortos e feridos e um sem número desabrigados. Em busca de melhores condições, diversos haitianos deixaram seu país. Muitos deles chegaram ao Brasil. Claro, a economia faz uma baita diferença nessas situações. O Haiti é muito pobre, tem infraestrutura debilitada. Um desastre natural como esse tende a ser muito mais devastador por lá que em países ricos, como Japão e Estados Unidos, por exemplo. Mas não dá para negar a importância da natureza na tragédia haitiana. Em 2016, uma nova crise humanitária internacional afeta o Brasil com a chegada de mais estrangeiros. Eles vêm da nossa vizinha Venezuela, em colapso por causa da economia. Falta de tudo lá, de papel higiênico a remédios. Matéria do Estadão de algumas semanas atrás relata que 30 mil venezuelanos já cruzaram a fronteira seca do país com o estado de Roraima. A Folha, em reportagem recente, afirma que a cidade de Piracaima, que há seis meses tinha apenas 12 mil habitantes, “vive um caos”. É bastante gente chegando. E o fluxo só tende a aumentar, à medida que a economia venezuelana só piora e segue renovando as nossas definições de crise. O que aconteceu com a Venezuela? Ao contrário do Haiti, a Venezuela não passou por desastre natural algum. Sim, teve a queda do preço do petróleo, que abalou a economia venezuelana. Mas nenhum outro país produtor de petróleo, por mais dependente que seja, experimentou uma derrocada desse tamanho. A situação é, em larga medida, coisa do ser humano mesmo. Especificamente, resulta da interferência desastrada no funcionamento dos mercados. Já levantamos este ponto aqui antes: o ideal é ter mercados e estado atuando de maneira harmônica, de modo complementar. Do lado do estado, ficam a infraestrutura jurídica para o bom funcionamento dos mercados; e atuações pontuais para corrigir as situações em que os mercados falham – monopólios, externalidades, regulações, etc. Fora isso, é dever do estado prover serviços públicos e realizar políticas sociais que promovam a igualdade de oportunidades na população. Mas como o estado consegue faz isso sem mercados vigorosos? Não consegue. Ele precisa que os mercados gerem bastante renda e emprego. Só assim o estado é capaz de coletar impostos para financiar suas políticas. Na Venezuela, as políticas econômicas vão justamente no sentido contrário: engessa-se o funcionamento dos mercados. Controla-se preços, proíbe-se empresários de realizar reajustes. A inflação em alta puxa para cima os custos dessas empresas. Mas elas são impedidas de repassar isso para preços, vêm sua lucratividade minguar e... as prateleiras ficam vazias. Expropriações são também comuns. O governo toma os negócios de empresários que não seguem suas recomendações de quanto produzir e quanto cobrar. Alguns vão até para a cadeia. Pergunta: você gostaria de ser empreendedor num cenário desse? Produção e emprego despencam. Começa a faltar de tudo. E a arrecadação do governo desce a ladeira, como consequência da queda na renda. Os serviços públicos mais básicos, como saúde e segurança, estão severamente comprometidos na Venezuela. Caracas, capital do país, é hoje uma das cidades mais violentas do mundo. Sem grana nos cofres, o governo recorre à impressão desenfreada de dinheiro para pagar as contas. É o que está por trás de uma taxa de inflação que se aproxima dos 1.000% ao ano. A situação na Venezuela é tão ruim, mas tanto, que vários de seus habitantes preferem vir para o Brasil. Sim, ao Brasil, em crise econômica como nunca enfrentada. O problema aqui é imenso, entre 2014 e 2016 a renda por habitante deve recuar 10%. E, ainda assim, não é nada quando comparamos à crise da nossa vizinha. Quais os impactos disso para o Brasil? A vinda de venezuelanos pode trazer uma série de vantagens para nossa economia. Por quê? Principalmente, porque imigrantes tendem a ser mais empreendedores. Os indivíduos com essa característica estão dispostos a arriscar uma mudança de país na esperança de mudar de vida. E isso pode contribuir para elevar a produtividade de nossa força de trabalho. Claro, esse efeito depende de quantas pessoas virão. E se, de fato, essa população ficará no Brasil. Se as condições econômicas continuarem ruins por aqui, sem oportunidades de emprego, parte significativa desses milhares de venezuelanos tende a buscar outra paragem. Afinal, elas já tomaram a decisão mais custosa: deixar o país de origem. Mas essas vantagens não vêm de graça – é importante pontuar. Teremos de fornecer condições mínimas de apoio para quem chega aqui. Essa turma já coloca pressão na rede de saúde pública das cidades fronteiriças do Brasil, por exemplo. O mesmo é esperado para todos os serviços públicos: de educação, segurança, transporte, etc. Por enquanto, não parece ser grande problema. Mas se o fluxo de pessoas se intensificar, o custo de acolhê-los não será trivial – o que é particularmente problemático num momento de crise fiscal como o do Brasil.
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